quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Para reflexão dos leitores

No dia ontem assumiu a Curadoria Externa da Atividade Policial o promotor de Justiça Augusto César Lobão. Profissional humilde e de boa circulação dentro da polícia sergipana, este promotor veio para somar. Em seu primeiro discurso à imprensa ele já se manifestou a respeito de "trazer a polícia para dentro do MP e o MP para dentro da polícia", atuando sem vaidades e sem perseguições a pais de família, buscando dar o tratamento adequado aos verdadeiros marginais da SSP.

Pedimos a atenção dos leitores para a leitura do texto abaixo, quibado da internet, e que ajuda a explicar a atual situação da segurança em nosso estado.

À leitura!

Logo em seus primeiros dias de trabalho, um policial aprende que é preciso dar "o seu jeito" e "correr atrás" da sua alimentação, porque a sua polícia "tem cobertor curto" e não pode custear todas as refeições previstas. Na sua zona de trabalho há que encontrar um bar, ou um lugar qualquer, que possa garantir "quentinhas" para quem "está de serviço", sem "levar problema" para as chefias da sua organização. No dia-a-dia, constata que essa cortesia pode ser estendida a outras amenidades: um cigarro, uma cervejinha depois do expediente, um "0800" ou "por conta da casa" em alguma celebração. Pode, ainda, ser expandida para incluir agrados eventuais a um superior, um amigo, um familiar, ou alguém que se quer impressionar.

Aos poucos, um jovem policial também aprende que, para fazer o seu trabalho, tem que atender a outras carências, e ampliar a sua rede de conhecidos e colaboradores. Esses podem "quebrar um galho", ofertando passagens gratuitas em ônibus ou vans, fazendo pequenos consertos de lanternagem e mecânica, ou mesmo completando o combustível da viatura ou de seu carro particular.

Isso demanda deferência para quem "tem consideração" com o policial: uma presença mais freqüente neste ou naquele local, a rapidez de um "B.O.", a "quebra de uma multa", o abrandamento de uma investigação, a solução de uma "questão na Justiça". Pode vir a incluir o respaldo do policial na solução de querelas, seu conselho ou indicação de um "pistolão" que possa encaminhar esta ou aquela pendência: o alvará vencido, a falta da nota fiscal desta mercadoria, o "gato" do fornecimento da luz ou da água. Enfim, contraprestações acompanhadas ou não por um agrado a mais ou, eventualmente, por algum pagamento para o policial por ter "quebrado um galho" ou "dado uma força". Logo o jovem policial percebe que essa teia de relacionamentos abre um sem-número de oportunidades, facilidades e recompensas, tão mais expressivas quanto mais distantes da obrigação do trabalho policial, tão mais rentáveis quanto mais próximas de suas competências profissionais nesse convívio com sua "clientela de baixo".

Mesmo antes de "ser polícia", um jovem sabe que "fazer segurança" é uma opção de quem tem arma e distintivo. O "direito adquirido" do "bico" é parte rotineira da vida policial. "Todo mundo tem" e "só não tem quem não precisa". Ainda que não seja assim em outros países, fazer segurança privada é proibido aos policiais no Brasil, porque se entende ser um conflito de interesses com a missão pública. Contudo, o "bico" é tolerado por governos e polícias e, em boa medida, tratado como uma política salarial informal e velada. O segundo emprego está tão disseminado que a definição de turnos e escalas de policiamento pode considerar os "bicos" dos policiais, já que "tirar algum por fora no bico" é visto como um meio decente de "honrar compromissos" sem "cair na bandidagem". "Só não pode mexer no bico" é uma poderosa regra de mão para quem quer se manter em alguma posição de chefia dentro das polícias, já que violá-la pode motivar "greves brancas", "operações-padrão", ou até a revolta dos policiais de ponta, comprometendo a provisão de policiamento público.
Com o tempo, o policial que "faz um bico na segurança" vai se dando conta de que ingressou num mundo de barganhas que ultrapassam sua ambição de melhorar a renda sem se envolver com "bandas podres". Percebe que vai se enredando numa malha invisível de favores e favorecimentos que se estabelece e se expande além da confiança, da honra e da amizade profissionais cujas conexões e latitude não são aparentes, manifestando-se sem aviso. O privilégio do bico põe em circulação relações de mútua dependência. Quem "entra no bico" acaba por "estar em dívida" com o colega que "arrumou a segurança", o superior que acomoda o turno, o "imediato" que garantiu a transferência de setor ou unidade, o colega que "dobra a folga" ou "tira plantão" no seu lugar, o funcionário que abonou suas faltas ou facilitou uma licença médica. Quem faz "bico" "deve muito e a todo mundo na polícia", e não está em "condição de criticar a conduta do colega". Torna-se gradualmente refém e partícipe de uma troca cruzada, múltipla e ampliada de favores e gentilezas, revezando entre cliente e patrão. Vê-se compelido a respeitar o "código do silêncio", a fazer vistas grossas diante de "desvios de conduta" entendidos como mais graves que o "bico".

O "bico" pode adquirir diversas formas eventuais ou regulares de reciprocidades que entrelaçam, direta ou indiretamente, as redes domésticas de conhecidos e colaboradores dos policiais com outras clientelas dentro e fora das polícias: um simples arranjo com algum dos gentis fornecedores de comida ou amenidades, um trabalho em alguma firma de vigilância privada, ou até o empreendimento de um policial que fornece vigilantes, policiais ou não, para grupos ou indivíduos. Isso sustenta diversas articulações entre policiais de distintas patentes e funções que correm em paralelo e que, com o tempo, atravessam e comprometem a estrutura formal de comando das polícias.

No mundo do "bico", tem-se, em muitos casos, a inversão das esferas formais de subordinação, uma vez que muitos policiais são patrões ou padrinhos de pares e superiores hierárquicos, e adquirem sobre eles essa ascendência informal. Essa é uma dinâmica que, uma vez estabelecida, desafia, ou melhor, sabota a expectativa da governabilidade da polícia. Faz nascer e sustenta grupelhos dentro e ao redor da polícia, que se fazem aliados ou rivais diante de seus interesses e negócios particulares, configurando uma rede de elos transversais e laterais mais ou menos coesos, mais ou menos estáveis, mais ou menos longevos.

A conveniência do "bico" coloca o policial entre a convivência e a conivência com os abusos e apropriações do poder de polícia. Uma "convivência forçada" com práticas clandestinas e ilegais, que fomenta conivências mais ou menos envergonhadas com outras "irregularidades".
Esse é o caso das "milícias" que se anunciam como ligas comunitárias de "autodefesa" e de "combate aos criminosos", e que atuam como "estados paralelos" em algumas favelas no Rio de Janeiro em substituição ou complemento ao policiamento público deficitário ou negligente. Trata-se de grupos armados organizados por policiais e afins que monopolizam recursos públicos de segurança e os redistribuem como arranjos particulares de proteção mediante a cobrança de taxas e outras contribuições dos moradores. "Empresários morais", que podem vir a se beneficiar dos desdobramentos do seu domínio armado: assegurar ou desapropriar moradias e bens; impor as diversas formas de resolução violenta e ilegal de conflitos, até mesmo o justiçamento e a execução sumárias.

O "negócio" da "venda de proteção" sob ameaças pelas "milícias" possibilita "ganhos" que exploram a ausência ou a prestação precária de serviços essenciais públicos ou privados nas favelas, articulando uma clientela de baixo cativa às clientelas de dentro e de fora das polícias. À "garantia" da continuidade do fornecimento clandestino de luz e água corresponde mais uma taxa. Outra taxa assegura o monopólio da venda de bujão de gás a uma determinada distribuidora. Uma outra autoriza trajetos e pontos de circulação de transporte alternativo feito por vans, kombis ou mototáxis. Outra, ainda, incide sobre o acesso pirata a TV a cabo, o "gatonet", considerado uma das maiores fontes de receita.

A extração desse pacote lucrativo de "impostos informais" tem sido objeto de disputas territoriais entre bandos armados, entre as chamadas "milícias" e "facções criminosas". A tomada de território e seu controle por "milicianos" têm correspondido a um substancial aumento desses "impostos informais". A justificativa é de que a proteção das "milícias" seria uma solução superior, mais estável que a ofertada pelos "bandidos", uma vez que impede a "guerra de facções" e, sobretudo, porque teria um tipo especial de suporte de parte das polícias.

Aos poucos, as fronteiras entre o "bico" e outros negócios "mais irregulares" vão ficando pouco nítidas, mais difíceis de estabelecer, distinguir e sustentar do que o nosso jovem policial imaginava. O policial que "faz bico na segurança" e o policial que está "envolvido numa milícia" situam-se numa ampla zona cinzenta cujas matizes são redutíveis ao aluguel do mandato policial, ao "negócio da proteção". Ilegalidades e licenciosidades privilegiadas vinculam, dentro e ao lado das polícias, patrões e clientes que convertem, de forma deliberada ou não, o poder de polícia em mercadoria: a "clientela do lado".

A essa altura, pode-se imaginar que o jovem policial, arredio e tomado por suspeitas quase paranóicas, comece a "confiar desconfiando" de seus próprios pares e dos cidadãos que policia. E adote um auto-isolamento sofrido para se proteger da possibilidade de traições, "tiros amigos" ou de situações nas quais possa ser a "paga" ou o "alvo" de um "acerto de contas", de uma "quebra de acordo" que desconhece, ou um "culpado" em alguma punição arbitrária. Afinal, diante do "bico", seja como praticante seja como tolerante, "todo mundo está devendo". No meio policial fala-se da "vida curta" daqueles que se envolvem com "ganhos fáceis"; por exemplo, o recebimento de "comissões" de casas de prostituição ou jogos ilegais, "acertos" na apreensão de drogas, armas ou mercadorias roubadas. Se esses não chegam à Justiça, estão "marcados" dentro e fora das polícias e são sentenciados pelas regras de justiçamento de seus sócios, clientes ou patrões.

O receio de vir a ser envolvido, de estar com colegas errados na situação e hora também erradas, leva o jovem policial a considerar a possibilidade de "conseguir uma colocação" fora das atividades de policiamento ou da polícia. Mas para "virar peixe" é preciso "mexer os pauzinhos", ter um "Q.I. alto", ter "Quem Indique". Isso porque os trajetos policiais de carreira estão sujeitos à barganha política manobrada de dentro e de fora da máquina do Estado, por aqueles que podem dar uma "carteirada do alto". Há nomes, grupos e aparatos partidários dos que estiveram, estão ou podem estar em posição de mando, ou de controle, ou de condução dos casos policiais, e cujos interesses, quando atendidos, podem ser retribuídos com acessos a "cargos de confiança", transferências para outros órgãos públicos, licenciamentos, promoções. Uma rede de tráfico de influência e prestígio, constituída por aqueles cujas carreiras políticas ou públicas identificam e aparelham potencialidades e facilidades dos recursos policiais: a "clientela de cima".

Constroem-se vínculos entre atores políticos e grupos de policiais que se concretizam nos variados "desvios de função" que vão desde motorista, "ajudante de ordens", até guarda-costas e assessor de autoridades. Há, também, instâncias de relacionamento que mobilizam, com alguma medida de discrição, policiais para atividades de campanha eleitoral. Uma ilegalidade corriqueira da clientela de cima é a feitura de "caixa dois" com as contribuições eleitorais. A tolerância para com o "caixa dois" é mais matizada do que a do "bico", mas nem por isso deixa de ser uma realidade. O transporte e, logo, a captação de fundos não declarados, em dinheiro vivo, convidam a que isso seja feito por quem pode portar legalmente uma arma e está protegido tanto pela sua "condição de autoridade" quanto por seu trânsito com a clientela do lado e a baixo. E essa é uma contraprestação muito valiosa, pois quem poderia melhor encarnar o papel de "coletor de impostos informais", à moda antiga ou patrimonial, que os investidos do poder de polícia?

Há outras demandas para as competências profissionais de quem exerce o "poder de polícia": a fabricação de "dossiês", a maquiagem legal para violação de privacidade, a conversão de desafetos políticos em "suspeitos" pela "construção de provas" do seu envolvimento, a manipulação do sigilo investigativo ou de Justiça de acordo com os interesses desta ou daquela "panela" de policiais e seus patronos ou clientes. Daí surgem prioridades pessoais e tácitas a serem atendidas, que são emanadas daqui ou dali, que podem perpassar, e mesmo conformar, o trabalho policial. Relacionamentos em que deferências, favores e quantias trocam de mãos, e o policial pode se beneficiar desse fluxo, ou mesmo se espera que ele compartilhe um pedaço da ação, uma mordidela, um pouquinho "para molhar o bico".

O amadurecimento de um policial inclui o prudente reconhecimento de distintas redes de padrinhos e apadrinhados, patrões e clientes com os quais vai deparando. Como agir? O que fazer? Como lidar com as carteiradas? Fechando os olhos, resistindo, aceitando, negociando? Como equilibrar-se, não se deixando "fazer de bobo" ou "se enrolar demais" com as transações na, da e ao redor da sua polícia? Sua escolha corresponde, em cada caso, ao que venha a fazer olhando para baixo, para cima, para o lado, diante dos olhares do público ao redor. "O que atrapalha é a política" ou "falta vontade política e sobra politicagem" é o desabafo sincero, que sintetiza todo esse emaranhado de patronos e suas carteiradas.

Policiais: fora de controle?

Um jovem policial logo percebe que os mecanismos internos e externos que deveriam controlar a polícia deixam a desejar, e que há ausências e tibiezas no que deveria ser presente e firme. Vê que a prioridade da política pública não incide sobre a politicagem. De sua parte, patrões e clientelas resistem a que tais instrumentos produzam resultados e buscam ocultar práticas reprováveis. Mas, quando ocasionalmente elas vêm à tona, vive-se um momento de glória fugaz da identificação de culpados e do "tirar as maçãs podres". Até a próxima vez. O que sobra, então, da expectativa de controle?

Sobra um barril contaminante, com algumas maçãs podres a menos. A tomada de decisão, o monitoramento, a avaliação, premiação e punição policiais ficam entregues ao voluntarismo, à convivência conivente e ao mandonismo da autoridade superior, às suspeitas de conchavo. Quando prevalecem expedientes informais, heterodoxos e invisíveis de controle, esses ficam abertos à acusação de serem apenas "politicagem" entre padrinhos e apadrinhados. Tem-se, como diz a máxima policial, uma polícia "fraca para fortes e forte para os fracos", e que já "está dominada". Está sob controle "dos fortes", isto é, dos patrões e de suas clientelas, de alguns. Esses têm como pretensão comum a inoperância de qualquer (outro) mecanismo de controle que possa vir a expô-los – e que corresponda às prioridades da política pública, por exemplo.

O resultado é uma Segurança Pública sempre aberta à privatização de seus meios, que convive e é sabotada por diversos arranjos de proteção. Tem-se uma polícia vulnerável, deslegitimada, indulgente diante da imprecisão de seu mandato, presa nas teias de favorecimentos. Uma polícia cuja ação está sujeita à barganha entre "muitos patrões". Essa situação gera incerteza. Essa incerteza se expressa em riscos, mais ou menos manipuláveis pelos envolvidos, para o melhor ou para o pior. Esses riscos produzem insegurança. O(a) cidadão(ã) sente-se inseguro(a) diante da sua polícia; a polícia, insegura em sua ação; o(a) governante, receoso do desenrolar, dos resultados e das conseqüências de qualquer atividade policial; os parlamentares, temerosos do conteúdo de suas deliberações e inermes em seu papel fiscalizador; o Judiciário, incapaz de avaliar o mérito da ação da polícia.

Se não há critérios prévios e formalmente estabelecidos de accountability ou de mérito, se a responsabilização pode simplesmente "acontecer", então todos tendem a aproximar sua ação do que quer que tenha sido valorado positivamente por alguém com mando. Para qualquer policial disposto a sobreviver em sua carreira, o melhor é "ser reativo", só chegar quando tudo já se resolveu de um jeito ou de outro. Acaba sendo mais prudente ser uma "polícia do depois", uma "polícia (que sabe participar) do espetáculo" das clientelas. Isso porque a propagada (pro)atividade ou a desejada "autonomia operacional" pode vir a ser invasiva e indelicada, até mesmo "ingrata" com aqueles que se revezam como clientes e patrões. A chamada "boa ocorrência policial" tende a ser aquela que "ninguém viu", que "passou despercebida", que não gerou registro, ou que "até o presente momento, ninguém reclamou". Aquela em que mútuas "considerações" são capazes, se necessário, de acobertar ou "acertar o resultado" construindo algum "saldo operacional" convincente, se possível com "apresentação para a imprensa" de "procurados periculosos", ou de "partidas de drogas", ou de "armas pesadas", e melhor, com tudo isso junto: o "kitsucesso". Uma polícia "secreta", estatal e não pública, que faz, mas não quer que saibam o que e como faz, a contrapartida inexorável de um poder de polícia em aberto.
É diante da "politicagem" que se compreende o ceticismo policial em relação aos "planos de segurança" dos governantes, o cinismo policial diante da ambição de um controle real da ação policial no policiamento público. Do ponto de vista da realidade policial, estabelecer metas ou indicar rumos sem dar conta da "politicagem" faz suspeitar que o que se propõe é "para inglês ver". A política pública se reduz à sucessão de expedientes, a ofertas de proteção, cuja lógica é a do resultado feliz mais próximo. Faz-se cada vez mais grandiloqüente, buscando segurança na imprecisão do que se propõe a fazer, e oportunista, apostando na exploração de sucessos eventuais ou na resposta salvacionista a desastres. Tem-se um ambiente que pode confinar esforços de governabilidade a ações esquizofrênicas e pontuais. Compreende-se, assim, a adesão ao que quer que seja a "moda" do momento. O vácuo da política pública favorece uma realidade em que a "politicagem" prospera, em que patrões e clientelas empreendem monopólios dos recursos públicos de polícia para redistribuí-los como mercadorias, gentilezas ou generosidades privadas.

"Cada sociedade tem a polícia que merece"

É o que se diz em círculos policiais. Apesar de ser um lugar-comum, dessa frase apreende-se um entendimento profundo do que é, do que deva ser a polícia. Cada sociedade tem a polícia que faz por merecer. A "melhor" polícia é a que vivifica cotidianamente seus modos de agir, aproximando o que a sociedade deseja que fosse feito em cada situação. Não pode ser diferente. O objeto da polícia é a própria sociedade, que exercita o seu poder de outorgante do mandato policial para demandar as formas, os modos e os meios que deseja na ação das polícias. E isso não pode ficar em aberto entregue a iniciativas missionárias, voluntaristas. No Brasil, isso admite todos os recortes e diferenciações locais e regionais expressas numa repactuação federativa que esclareça os termos do mandato policial, qualificando na práxis policial o exercício do poder de polícia. Dessa forma, podemos nos capacitar a lidar com os problemas do barril, e não apenas à caça episódica de "maçãs podres".

QUE DEUS NOS AJUDE E OLHE POR NÓS!

domingo, 11 de novembro de 2012

A quem interessa a insegurança pública?


Gildércio, rapaz esforçado tanto para trabalhar quanto para estudar, teve uma visão que mudou sua vida ao completar seus 18 anos, numa região periférica da capital:

- Moro aqui no bairro Arintins, um bairro novo, onde não existe sequer um hospital, uma escola, ruas pavimentadas... Aliás, aqui não existe basicamente nada. São lotes que foram vendidos somente com recibos, mas que carecem de legalização...

Gildércio continua a raciocinar:

- Ora, como aqui é um bairro novo, os futuros moradores necessitarão de, no mínimo, tijolos e cimento para levantarem suas casas. 

E, assim, Gildércio, na frente de sua casa, começou a vender sacos de cimento e tijolos. De forma modesta, é verdade. Só para se ter ideia, as encomendas dos moradores do bairro vinham de carroça do centro da capital e eram bastante comemoradas quando chegavam na casas dos moradores. Gildércio comprava suas mercadorias utilizando-se de carroças, obviamente, pelo fato de ainda não possuir um veículo de transporte para os materiais de construção.

Bairro quase totalmente pronto, Gildércio não tinha mais a quem vender suas mercadorias, porém já havia ganho dinheiro suficiente para traçar novos rumos em sua vida.

Gildércio abre, então, uma casa mediana de material de construção no centro da cidade.

Para sua surpresa, um mês depois de aberta, sua loja foi assaltada.

Achando que seria um fatalidade, Gildércio imaginou que tal fato não voltaria a ocorrer. 

Sua previsão falhou. Gildércio teve seu comércio mais uma vez roubado.

E os fatos foram se repetindo, se repetindo, e Gildércio não via uma luz no fim do túnel para seus problemas.

Um belo dia, assistindo ao jornalístico televisivo, Gildércio verifica que a Polícia local não efetua concurso para a admissão de novos integrantes há quase oito anos e que a proporção policial por habitante praticamente caiu pela metade neste período.

Gildércio  não queria... Não era seu desejo... Porém teve que ceder e contratar um serviço de segurança particular para a sua empresa e repassar estes custos, claro, para os seus clientes.

Não se sabe como, mas diversos empresários da segurança privada tomaram conhecimento de que Gildércio deseja contratar vigilantes para o seu empreendimento.

O primeiro candidato que lá se apresentou na gerência, mostrou o que sua empresa dispunha para a execução do serviço:

- O senhor lembre que há 8 anos a PM não abre concurso... Nossa empresa dispõe de 500 homens bem treinados, habilitados em defesa pessoal, tiro. Temos coletes para todos, viaturas novas e amanhã mesmo já estamos em condições de trabalho.

Despediu-se e logo entrou o segundo empresário candidato:

- O senhor lembre que há 8 anos a PM não abre concurso... Nossa empresa dispõe de 500 homens bem treinados, habilitados em defesa pessoal, tiro. Temos coletes para todos, viaturas novas e amanhã mesmo já estamos em condições de trabalho.

Gildércio ficou em dúvida, afinal de contas, praticamente as empresas eram similares na prestação de serviço.

Eram!

Até que entra o terceiro candidato:

- Tudo bem, Gildércio? Eu sou o Coronelson, o senhor sabe que há 8 anos a PM não abre concurso... Nossa empresa dispõe de 500 homens bem treinados, habilitados em defesa pessoal, tiro. Temos coletes para todos, viaturas novas e amanhã mesmo já estamos em condições de trabalho.

Gildércio coça a cabeça e diz:

- Porra, Coronelson! Praticamente todas as empresas de segurança fazem o mesmo serviço! Vou tirar no palitinho a empresa que será contratada!

Logo Coronelson retruca:

- Calma Gildércio, ainda não acabamos a conversa!

- Há mais alguma novidade?

- Claro que sim, além de tudo o que nós declaramos anteriormente nós temos o apoio de GT10, do GTB5, da RPrata, do BPCem, ou seja, temos um diferencial que nenhuma outra empresa possui.

Gildércio arregala os olhos e exclama:

- Coronelson, sua empresa está contratada! E ainda quero uma escolta pessoal pra mim também, afinal de contas sua corporação está há 8 anos sem concurso e a marginalidade tá pintando e bordando nas ruas...

- Rárárá! É verdade! Mas, o concurso, virá... Em breve, virá...

A historinha acima, manos, aconteceu em um estado fictício da República dos Bruzundangas, e ajuda a explicar o que ocorre de vez em quando em algumas polícias brasileiras. Às vezes o policial é escalado para fazer a cobertura de um estabelecimento comercial sem se dar conta de que está sendo usado para isto. 

Ainda que se dê conta de que está sendo usado, nada pode fazer, pois o militarismo o obriga a cumprir tais determinações sem pestanejar.

Os encarregados de fiscalizar a lei, fecham os olhos e ajudam a fortalecer a insegurança pública brasileira, não se sabe por que motivação.

Recentemente, vimos a cantora Rita Lee ofender e humilhar policiais militares em uma festa realizada aqui em Sergipe e não vimos governo, nem comando impetrar qualquer tipo de ação ou remédio jurídico para resgatar a honra dos militares envolvidos no caso daquele dia. 


Coube a dois simples sargentos de polícia e aos companheiros que foram humilhados buscarem por conta própria correr atrás do prejuízo, o que reforça a tese que se ventila em todos os quartéis de polícia de que os superiores e governo não estão nem aí pra gente: “cada um que faça o seu”!

QUE DEUS NOS AJUDE E OLHE POR NÓS!